Ayrton Senna, tricampeão mundial e um dos maiores pilotos da história da Fórmula 1, completaria, nesta quarta-feira, 47 anos.
Sei que hoje em dia há muitas polemicas entre fans de Senna e outros pilotos que tambem marcaram para sempre a F1 mas colocando isso de lado aki vai a historia deste fantastico piloto.
Desde a infância, Ayrton Senna sempre teve interesse pela velocidade. Ainda criança, aos quatro anos, ganhou seu primeiro “carro”, feito na oficina de seu pai, Milton da Silva. Tempos depois, Senna já pilotava karts mais potentes e chegou a guiar um modelo que fora dos irmãos Fittipaldi na década de 60.
A primeira corrida oficial foi em 1º de julho de 1973. Um sorteio definiria o grid de largada e Ayrton, o mais jovem entre os competidores, ficou com a pole, a primeira de muitas outras que viriam. Na corrida, Senna segurou adversários mais experientes e quase ficou com a vitória, abandonando depois de um toque com outro piloto.
As vitórias foram se tornando cada vez mais constantes e no ano seguinte Ayrton conquistou o título Paulista da categoria Júnior. Em 1976, Senna venceria o Campeonato Brasileiro e as “Três Horas de Interlagos”. Na temporada seguinte, o brasileiro conquistaria o bicampeonato da prova, além do Sul-Americano no Uruguai.
As maiores frustração de Senna, contudo, foram os Campeonatos Mundiais, único título que não conquistaria na carreira. Em 1978, Ayrton, no circuito de Le Mans, foi a revelação do evento, mas acabou na sexta colocação.
Com mais três títulos de campeão brasileiro – entre 1979 a 1981 – tentou novamente o título mundial, no Estoril. Desta vez, terminou empatado em número de pontos com o campeão, o holandês Mark Koene, sendo superado no desempate. Em 1980, Senna voltaria a ser vice, em Niveles, Bélgica.
Quando já competia na Inglaterra pela Fórmula 1600, Ayrton voltou a disputar o mundial, em Parma, Itália: ficou em quarto. Sua última tentativa foi em de 1982, quando teve vários problemas e acabou em décimo quarto na Suécia.
Sem uma categoria que lhe interessasse no Brasil e com alguns contatos estabelecidos na Inglaterra, Senna foi para a Europa em 1981 para disputar o campeonato da Fórmula Ford 1600. Na época, a categoria era a vedete entre as que serviam de ligação entre o kart e os campeonatos maiores. O resultado eram grids cheios e pilotos dispostos a arriscar tudo por um futuro no automobilismo.
O brasileiro correria três campeonatos paralelos da categoria: o da P&O, o Townsend Thoresen e o do Clube Automobilístico RAC. A equipe era a Van Diemen, uma das mais competitivas de toda da Grã-Bretanha.
Ayrton disputou 20 corridas ao longo do ano. Foram 12 vitórias, dez voltas mais rápidas e três poles, o suficiente para assegurar o título da Copa Townsend Thoresen. Passada a euforia pelo título, Senna sofreu o maior golpe de sua carreira até então: um telefonema do pai, pedindo que voltasse imediatamente a São Paulo. Milton da Silva, empresário, queria o filho por perto para gerenciar os negócios da família. A brincadeira na Europa havia terminado ali.
Senna pareceu levar a sério a nova função. Mesmo insatisfeito, entrou na faculdade de administração e passou alguns meses tentando esquecer das pistas. A família, contudo, percebeu o equívoco. O escritório ao qual Ayrton estava acostumado era bem menor. Procurado pela Van Diemen para renovar seu contrato para a F-Ford 2000, em 1982, o piloto teve carta branca para voltar às pistas.
Na nova categoria, o domínio do brasileiro foi ainda maior. “Harry Silva” – como era conhecido, pela dificuldade de pronúncia dos mecânicos da equipe – venceu 20 das 27 corridas que disputou.
O desempenho impressionante, que incluiu também 14 poles e 21 voltas mais rápidas, rendeu um convite para disputar uma etapa da F-3 na pista de Thruxton. Mesmo sem conhecer o carro, Senna venceu de ponta a ponta,com direito à melhor volta da prova. A West Surrey, equipe de ponta da Fórmula 3, não tardou em assegurar Ayrton para a temporada seguinte.
Com um currículo invejável na Fórmula Ford, Senna chegou à F-3 Inglesa como grande promessa. Em sua única corrida pela categoria, o brasileiro havia dado um show, com pole, vitória e volta mais rápida. Embora toda a imprensa mundial apontasse Ayrton como favorito, os ingleses insistiam em super valorizar Martin Brundle, nova estrela local.
Durante as vinte provas da temporada o que se viu, realmente, foram duelos épicos entre os dois. Senna venceu nove provas seguidas, mas passou outras três sem terminar, dando margem para a recuperação do inglês. No final, Ayrton conquistou 15 vitórias – recorde na época – e chegou ao título. Brundle ganhou outras quatro e a única vitória que escapou da dupla ficou nas mãos do norte-americano Ross Cheever.
Brundle teria sua última chance de desbancar Senna no tradicional GP de Macau, que reúne os melhores pilotos de Fórmula 3 em todo o mundo. Mas, naquele momento, não havia nada a se fazer para parar Ayrton. A vitória, como na maior parte das vezes, veio seguida de pole e volta mais rápida.
O bom desempenho rendeu Senna um presente que todo jovem piloto gostaria de receber: um teste na Williams, atual campeã mundial de Fórmula 1.
Donington Park, 19 de julho de 1983. Um brasileiro de 23 anos, destaque da Fórmula 3 Inglesa, estaria prestes a escrever a primeira linha de sua história no topo do automobilismo mundial. Como prêmio por suas vitórias, a Williams – campeã mundial da época, com Keke Rosberg – deu ao piloto a chance de testar o modelo FW7.
Senna concentrou-se, cumpriu todo seu ritual de preparação, deu dois tapinhas no aerofólio traseiro e disse, em tom quase adolescente: “É hoje!”.
E realmente, aquele foi o dia de Ayrton, ou Harry, como alguns ingleses insistiam em dizer. Aos poucos, uma a uma, as marcas foram caindo. Poucas voltas foram suficientes para que Senna quebrasse o recorde da pista, deixando a equipe impressionada.
Saindo do carro, o piloto disse ao irmão Leonardo, que o acompanhava: “Isso aqui não tem mistério, é moleza”.
Mas ainda não seria em 1984 que Senna correria pela Williams. Com as principais equipes fechadas para a temporada que chegava, restou ao brasileiro lutar por vagas nos times menores, e foi a Toleman, um time simpático, tipicamente médio, que acolheu o futuro campeão.
Era domingo, dia 25 de março de 1984, e o GP Brasil mobilizava o país. Todas as atenções estavam voltas para Nelson Piquet, campeão da temporada anterior e um dos favoritos ao título. Entre os estrangeiros destacavam-se Alain Prost, Niki Lauda, Keke Rosberg, Nigel Mansell, Jacques Laffite, Renè Arnoux e Elio de Angelis, que marcou a pole-position.
Em um dos melhores grids da história da Fórmula 1 (se contados hoje seriam 15 títulos mundiais), Senna ficou com a 16ª colocação, uma a frente de Johnny Cecotto, campeão de motovelocidade, seu primeiro companheiro de equipe na categoria. Mas o estreante não teve sorte. Ganhou três posições e andava em nono quando teve problemas em seu turbo. Era a primeira das 14 provas que disputaria em 1984 e, certamente, não seria a melhor delas.
As duas corridas seguintes foram muito boas para Senna. Na África do Sul, largou em 13º e chegou em sexto, marcando seus primeiros pontos na Fórmula 1. Ao final da prova, recusou maiores comemorações de Alex Hawkridge, seu chefe na Toleman: “Estou pronto para chegar ao pódio, arrume carro para isso”, disse. Três semanas depois, na Bélgica, o sexto lugar se repetiu, desta vez após uma largada em 19º.
O GP de San Marino, contudo, foi desastroso. Com dois motores quebrados e impossibilitado de marcar tempo na sexta-feira, Ayrton acabou traído pela forte chuva que caiu no sábado. Pela primeira e última vez, Senna estava fora de uma corrida por não ter obtido tempo de classificação. Na França, duas semanas depois, foi traído pelo turbo, que quebrou quando estava em quinto.
Mas a grande prova do brasileiro em 1984 foi o GP de Mônaco. Largando em 13º, Ayrton foi passando por pilotos com muito mais experiência na Fórmula 1. Não demorou muito e encostou em Niki Lauda. Encostou e passou fácil. Já estava em segundo e Alain Prost seria a próxima vítima. Mas acabou não sendo, porque o diretor de prova, o ex-piloto belga Jack Ickx, encerrou a corrida, segundo muitos dizem, para dar a vitória a Prost.
As corridas seguintes foram marcadas por muitas falhas mecânicas e bons treinos de classificação. A partir do GP do Canadá, Senna ficou por cinco vezes seguidas entre os dez primeiros do grid. Entretanto, dentre essas cinco provas, só completou em duas. Foi 7º em Montreal e subiu ao pódio em Brands Hatch, com um terceiro lugar. A Toleman disputou o GPs da Alemanha, Áustria e Holanda com um único carro e, nas três provas, Senna teve problemas. Àquela altura, o brasileiro já estava acertado com a Lotus para 1985. A Toleman descobriu e, como forma de repreender a atitude do piloto, chamou o italiano Pierluigi Martini para treinar em Monza. Martini sequer se classificou para a prova.
Todavia, a equipe voltou atrás e o brasileiro disputou, ao lado de Johansson, as duas últimas provas do ano. No GP da Europa, em Nurburgring, Ayrton largou em 12º e envolveu em um acidente com outros sete carros. Na última corrida do ano, em Portugal, Senna conseguiria sua melhor posição de largada até então: um terceiro posto, atrás de Prost e Piquet. A despedida da Toleman aconteceu no pódio, também com um terceiro lugar, que lhe deu a 9ª colocação no campeonato, com 13 pontos.
Piloto revelação da temporada anterior, Senna chegou à Lotus em busca da primeira vitória na Fórmula 1. Na prova de estréia, no Brasil, Ayrton foi bem nos treinos, ficando com a quarta colocação. Na corrida, contudo, um problema elétrico o tirou da disputa.
A prova seguinte, em Portugal, guardava boas surpresas. Senna marcou a pole com uma volta fantástica e na corrida deu show: largou em primeiro, liderou todas as voltas e, em uma delas, estabeleceu a melhor marca da prova. A primeira vitória de Ayrton Senna na Fórmula 1 ocorreu sob um dilúvio no circuito do Estoril. Ali, o brasileiro ganhou o título de “Rei da Chuva”.
Seguiu-se, então, uma seqüência de três poles da Lotus, duas com Senna e uma com De Angelis. O italiano venceu em San Marino, enquanto Ayrton não marcou pontos em nenhuma das três provas. Senna vinha bem nos treinos, mas nas corridas era quase sempre vítima de problemas mecânicos da Lotus ou do motor da Renault, que consumia muito mais que os adversários. Na segunda metade do campeonato, contudo, as coisas melhoraram.
Mais três poles, quatro pódios e uma nova vitória, na Bélgica, credenciaram Ayrton Senna como piloto vencedor na categoria. No final do ano, Ayrton ficou em quarto no mundial, melhor entre os estreantes. À frente dele, apenas Prost, Alboreto e Rosberg.
A temporada de 1986 começou conturbada na Lotus. Sabendo que Derek Warwick estava sendo cotado para ser seu companheiro de equipe, Senna causou polêmica ao vetar a contratação do inglês, alegando que a equipe não tinha condições de ter dois pilotos de ponta. O veto foi aceito e o companheiro do brasileiro naquele ano foi um conde escocês, herdeiro de um dos maiores latifúndios daquele país e campeão da F-3 Inglesa: o obscuro Johnny Dumfries.
A primeira prova do ano seria o GP Brasil e Ayrton Senna já dividia as atenções da mídia e dos torcedores com Nelson Piquet, da Williams. Os dois dividiram a primeira fila, com Senna na pole. Na corrida, a ordem se inverteu, com Piquet em primeiro e Senna em segundo. Foi a segunda “dobradinha” brasileira correndo em casa.
A corrida seguinte, o GP da Espanha, em Jerez, marcou a terceira vitória de Senna e também uma das menores diferenças da história da categoria. Ayrton, mais uma vez o pole, venceu Mansell por míseros 14 milésimos. Em San Marino, duas semanas depois, o brasileiro conquistou mais uma pole, mas na corrida teve problemas e abandonou.
Senna vinha somando o máximo de pontos que lhe eram possíveis quando chegou a Detroit e fez a pole, depois de um jejum de três corridas. No domingo, Ayrton venceu a prova com Prost em terceiro. Foi a “vingança” do país pela derrota para a França na Copa do Mundo, um dia antes, e a última conquista de Senna em 86.
Com poucas chances na disputa pelo título após uma seqüência de cinco maus resultados, Senna ainda marcaria três poles - um total de oito ao longo do ano - e dois pódios, ficando com a quarta colocação no mundial que marcou o bicampeonato de Alain Prost.
Muito se especulou sobre uma possível transferência de Senna para a McLaren no início de 1987, mas o brasileiro disputaria mais uma temporada pela Lotus. A equipe iniciava uma fase de decadência e, mesmo contando com os motores Honda, não deu a chance que Senna queria de brigar pelo título.
O novo companheiro de equipe do brasileiro seria o simpático japonês Satoru Nakajima, indicado pela fornecedora nipônica, mais conhecido por seus acidentes que propriamente pelos resultados.
Foi um ano amplamente dominado pelas Williams, que conquistaram 12 poles e nove vitórias. Ayrton, que havia conquistado oito poles em 1986, teve que se contentar com apenas uma, em San Marino.
A temporada mostrou que, além de “Rei da Chuva”, Ayrton era também o “Rei da Rua”, pois suas duas vitórias no ano foram conquistadas em Detroit e Mônaco.
Com a decadência iminente da Lotus, que perdia rendimento a cada prova, Senna começou a analisar as propostas que recebia. A melhor delas era bancada pela Honda: o brasileiro iria para a McLaren, com igualdade de condições para Alain Prost e a promessa de um carro que lhe permitisse brigar pelo tão sonhado campeonato.
Para o lugar de Senna, a Lotus contratou seu maior rival até então: o inimigo declarado Nelson Piquet.
Quatro temporadas depois de chegar à Fórmula 1, Ayrton tinha, enfim, a chance que tanto perseguira: ter um carro que lhe permitisse disputar o título. A corrida de estréia na McLaren, no Brasil, tinha tudo para ser perfeita. O modelo MP4/4, projetado por John Barnard, mostrou-se um carro excepcional e Senna garantiu a pole. O domingo, no entanto, começou mal para Ayrton. Um problema no câmbio já no grid de largada o obrigou a largar do box, na última posição. O piloto deu um show de ultrapassagens e já era sexto quando foi desclassificado sob alegação de que teria usado o carro reserva.
Na corrida seguinte, em San Marino, os problemas pareciam ter chegado ao fim. Depois de treino e corrida perfeitos, Senna venceu sem maiores dificuldades, consagrando seu primeiro triunfo na nova equipe.
A terceira corrida daquele ano, em Mônaco, mudou a vida de Ayrton, segundo as próprias palavras do piloto. A vitória estava garantida e, quando liderava com quase um minuto de vantagem, Senna cometeu um erro, talvez o maior de sua carreira. O brasileiro perdeu a concentração e bateu na entrada do túnel. A partir de então, Ayrton passou a trabalhar mais seu lado psicológico, visando evitar novos contratempos.
O restante da temporada foi uma briga constante entre Senna e Alain Prost, seu companheiro na equipe. Em apenas uma das 16 etapas, a McLaren não saiu vencedora. Foi em Monza, quando Ayrton Senna liderava e acabou batendo no retardatário Jean Louis Schlesser. A vitória, então, caiu no colo de Gerhard Berger, da Ferrari.
O campeonato chegou ao Japão, penúltima etapa, podendo ser decidido em favor de Senna. Saindo na pole, o brasileiro teve problemas na largada e caiu para a 14ª colocação. O que se viu depois foi uma das mais fantásticas corridas de recuperação da história da Fórmula 1: Ayrton foi superando seus adversários um a um até chegar em Alain Prost, na 27ª volta.
O francês tentou reagir, mas não conseguiu conter o ímpeto de Senna. O garoto que sonhava em chegar à Fórmula 1 e por pouco não desistiu de tudo, conquistava seu primeiro título mundial.
Com o título de Senna e todo o marketing feito sobre o piloto brasileiro, o clima na McLaren não poderia ser melhor. Poderia dizer que havia satisfação geral na equipe, não fosse a honrosa exceção de Alain Prost.
Desde o início da década de 80 no time, Prost sentia um misto de decepção e ciúmes. Nas cinco primeiras corridas, Senna conquistou a pole; mas não foi isso que detonou uma rivalidade declarada entre os dois. Em San Marino ambos fizeram um pacto de não agressão durante a primeira volta: ninguém tentaria ultrapassar, por questões de segurança.
Pois em Ímola, Ayrton revogou o trato e partiu para cima. A manobra valeu a vitória para o brasileiro; mas, muito mais que uma prova, Senna ganhou um inimigo. Farpas à parte, a decisão chegou mais uma vez ao Japão, palco da disputa anterior.
A prova de Suzuka ilustra muito bem o clima de guerra: aproveitando-se da vantagem que tinha no mundial, Prost jogou o carro para cima de Senna, tentando forçar um duplo abandono.
A manobra tirou Prost da prova, mas Ayrton, ajudado pelos fiscais de pista, foi para o box, trocou o "spoiler" e voltou para a pista em busca da vitória, que adiaria a decisão do título. Na última volta, Senna passou pela Benetton de Alessando Nannini e comemorou a vitória como poucas vezes se viu.
Mas a FIA e seu carrancudo presidente Jean Marie Balestre, anulou o resultado, alegando que, ao voltar à pista, o brasileiro não havia contornado a chicane. A briga de Senna com Balestre quase fez o piloto desistir da Fórmula 1. Mas em 1990, lá estava Ayrton em sua McLaren.
A temporada de 1990 seria decisiva para Ayrton: o sonho do bicampeonato, adiado nos bastidores na temporada anterior, estava mais vivo do que nunca. Alain Prost, o principal rival, havia trocado a McLaren pela Ferrari, onde faria uma dupla explosiva com Nigel Mansell. Para o lugar do francês a McLaren contratara Gerhard Berger.
Na etapa de abertura, em Phoenix, um adversário diferente incomodou o brasileiro. Com as Ferrari fora da briga, Ayrton deparou-se com um inspiradíssimo Jean Alesi, da Tyrrell. Campeão da F-3000, Jean segurou Senna enquanto pôde, mas acabou cedendo às pressões e contentando-se com a segunda posição.
Um grande público lotou Interlagos para apoiar Ayrton no GP Brasil. A pole no sábado dava a entender que o longo tabu de vitórias seria quebrado. Só esqueceram de avisar ao japonês Satoru Nakajima; retardatário, o piloto fechou Senna, que perdeu o bico e várias posições. No final Ayrton ainda terminou com a terceira colocação.
Mesmo em equipes diferentes a rivalidade entre Senna e Prost permanecia a mesma. Ao longo do ano os dois foram revezando boas e más fases e, pela terceira vez, chegaram ao Japão para a decisão do título.
Disposto a não correr o risco de perder mais uma vez para o francês, Senna planejou um troco à manobra de 1989. Largando na pole, o brasileiro saiu mal e ficaria atrás de Prost na freada da primeira curva. Mas Senna fez uma opção arriscada por não frear: o acidente foi inevitável e, com ambos fora da prova, o bicampeonato estava garantido.
ano de 1991 foi marcado por duas fases distintas para Ayrton Senna. No início do ano, com a McLaren ainda em igualdade de condições com as Williams, o brasileiro venceu as quatro primeiras provas, disparando na classificação.
Entre as vitórias de Ayrton, destaque para a do GP Brasil, em Interlagos: com um carro visivelmente em frangalhos – tinha apenas a sexta marcha nas voltas finais – Senna venceu pela primeira vez correndo em casa. O piloto mal podia conter a emoção após a prova, gritando freneticamente no rádio da equipe.
Mas a McLaren não conseguia desenvolver seu carro como deveria. A Honda, que sairia da Fórmula 1 ao final do ano, não desenvolvia motores com o afinco de outros tempos, e o resultado foi uma perigosa aproximação das Williams-Renault, lideradas pelo estabanado Nigel Mansell.
Uma série de quebras e azares fez com que o título, que parecia certo no início, ficasse aberto. Quis o destino que a pista decisiva, mais uma vez, fosse a de Suzuka, no Japão. Como só a vitória interessava a Mansell, a McLaren fez um jogo de equipe buscando desconcentrar o inglês. Gerhard Berger, com pneus mais macios, largou na frente, com Senna em segundo e Nigel em terceiro.
Desesperado para passar o brasileiro, Mansell passou reto na curva após a reta, perdendo qualquer chance de ser campeão. Senna ainda passou Berger na pista, mas no final abriu para a vitória do companheiro, acatando ordens do time, como agradecimento ao desempenho do austríaco.
O desenvolvimento das Williams-Renault no fim de 1991 já era evidente, mas não se imaginava que já no ano seguinte a equipe fosse dominar a Fórmula 1. Munida de um aparato tecnológico inovador para a época – entre eles suspensão ativa e controle de tração –, a escuderia não deu chance aos rivais.
Logo nas primeiras etapas o domínio ficou evidente: Mansell venceu as cinco primeiras provas, abrindo uma diferença que apenas cresceu ao longo da temporada. No final das contas, o inglês foi campeão na Hungria, com cinco etapas de antecipação e 52 pontos a mais que Riccardo Patrese, o segundo.
Para Ayrton, restaram atuações isoladas, com a vitória em Mônaco e na Hungria. Mesmo nos treinos, sua especialidade, o brasileiro não teve chances: apenas uma pole em 16 etapas, contra 14 de Mansell.
A definição de Senna, ainda nas primeiras etapas, foi a melhor encontrada para descrever o modelo FW14: “É um carro de outro mundo”.
O domínio da Williams, marca da temporada de 1992, continuou no ano seguinte. Senna declarou publicamente que aceitaria qualquer oferta para correr pela equipe e chegou a ser procurado, mas o novo piloto teria vetado o brasileiro. O nome dele: Alain Prost.
A temporada começou com o GP da África do Sul e, como no ano anterior, era impossível seguir o ritmo dos carros de Frank Williams. Apenas um fator poderia complicar a vida de Prost: a chuva. Mas, como não choveu em Kyalami, o francês não teve problemas para vencer.
No Brasil, quinze dias depois, a história foi diferente. Sem chances de brigar pela pole, Senna largou em terceiro, atrás de Prost e Hill. Durante a prova, uma tempestade caiu sobre Interlagos. Com a pista completamente molhada, Senna fez a festa da torcida. Após sua segundo vitória no Brasil, Ayrton foi erguido pelos fãs, que invadiram a pista.
Para quem pensou que o show de Interlagos havia sido o último do ano, Senna guardou uma atração ainda maior: o GP de Donington Park. Largando na quarta colocação, Ayrton caiu para quinto e foi passando um a um os adversários: Schumacher, Wendlinger, Hill e, por fim, Prost. Ao final da primeira volta, Senna já era líder. O feito fez com que o piloto recebesse uma justa homenagem: uma placa, colocada na entrada do circuito, em homenagem à “primeira volta mais fantástica da história”.
Mesmo com um carro inferior Ayrton conseguiu equilibrar a disputa até o GP do Canadá, quando Prost começou uma série de quatro vitórias, praticamente garantindo o título. Para terminar bem a temporada, Senna venceu as duas últimas provas, com direito a pole na Austrália.
No pódio de Adelaide, Ayrton fez um dos gestos mais nobres da história da Fórmula 1. Vencedor, o brasileiro puxou Alain Prost para o degrau do primeiro colocado. Era o fim das brigas e acusações.
Eram passados dez anos desde que Senna havia andado pela primeira vez em um carro de Fórmula 1, justamente uma Williams, em julho de 1983. O garoto de 23 anos se transformara num tricampeão mundial, com um recorde de 62 poles e já acumulava 41 vitórias. Os carros da equipe inglesa haviam dominado as duas temporadas anteriores e a expectativa era novo massacre em 1994.
Na primeira corrida, o GP Brasil, Ayrton marcou a sua primeira pole pela equipe, aumentando seu recorde de primeiras colocações no grid. Senna ia bem e liderava com relativa facilidade, mas perdeu a ponta para o alemão Michael Schumacher, a mais nova fera da categoria, no reabastecimento. No ímpeto de alcançar Michael, Ayrton Senna acabou rodando e abandonou a prova, vencida por Schumacher. Seu companheiro na Williams, Damon Hill, ficou em segundo.
Passaram-se quinze dias e a F-1 foi a Aida, Japão, para a disputa do GP do Pacífico. Na pista, que recebia pela primeira vez a categoria Senna conquistou mais uma pole. O brasileiro teria mais uma vez Michael Schumacher a seu lado no grid. A corrida de Senna, contudo, acabou logo na largada: Ayrton foi atingido pela McLaren do então inexperiente Mika Hakkinen; Nicola Larini, da Ferrari, também foi envolvido no acidente. Longe das confusões, Schumacher venceu mais uma prova, fazendo 20 pontos a 0 no placar.
A pressão sobre Senna crescia. Afinal, Schumacher tinha uma boa vantagem e a Williams tinha um carro tido como imbatível. Fato é que, com a proibição dos dispositivos eletrônicos, a equipe ainda procurava um acerto ideal para voltar a ter a supremacia dos anos anteriores. Senna reclamava da instabilidade do carro que, segundo ele, estava difícil de guiar. A Williams prometeu algumas mudanças no modelo, mas Senna não teve tempo de presenciá-las.
O GP de San Marino de 1994 foi o pior de todos os tempos na Fórmula 1. Na sexta-feira, Rubens Barrichello bateu forte e teve escoriações no nariz. A segurança da pista já era discutida quando, no treino classificatório de sábado, morreu o austríaco Roland Ratzenberger.
Naquele domingo Ayrton parecia triste, abatido e desmotivado. Alguns dizem que ele não queria correr. Outros, que Senna havia previsto sua morte. Mas a bandeira da Áustria, com a qual ele homenagearia Roland Ratzenberger caso vencesse aquela corrida, mostra que, até o fim, ele lutou pela vitória.
Uma vitória que não veio naquele 1º de maio de 1994. O laudo do hospital Maggiore, em Bolonha, veio implacável, inapelável: Ayrton Senna da Silva, 34 anos, brasileiro, piloto de corridas, morreu.
fonte: f1web
Sei que hoje em dia há muitas polemicas entre fans de Senna e outros pilotos que tambem marcaram para sempre a F1 mas colocando isso de lado aki vai a historia deste fantastico piloto.
Desde a infância, Ayrton Senna sempre teve interesse pela velocidade. Ainda criança, aos quatro anos, ganhou seu primeiro “carro”, feito na oficina de seu pai, Milton da Silva. Tempos depois, Senna já pilotava karts mais potentes e chegou a guiar um modelo que fora dos irmãos Fittipaldi na década de 60.
A primeira corrida oficial foi em 1º de julho de 1973. Um sorteio definiria o grid de largada e Ayrton, o mais jovem entre os competidores, ficou com a pole, a primeira de muitas outras que viriam. Na corrida, Senna segurou adversários mais experientes e quase ficou com a vitória, abandonando depois de um toque com outro piloto.
As vitórias foram se tornando cada vez mais constantes e no ano seguinte Ayrton conquistou o título Paulista da categoria Júnior. Em 1976, Senna venceria o Campeonato Brasileiro e as “Três Horas de Interlagos”. Na temporada seguinte, o brasileiro conquistaria o bicampeonato da prova, além do Sul-Americano no Uruguai.
As maiores frustração de Senna, contudo, foram os Campeonatos Mundiais, único título que não conquistaria na carreira. Em 1978, Ayrton, no circuito de Le Mans, foi a revelação do evento, mas acabou na sexta colocação.
Com mais três títulos de campeão brasileiro – entre 1979 a 1981 – tentou novamente o título mundial, no Estoril. Desta vez, terminou empatado em número de pontos com o campeão, o holandês Mark Koene, sendo superado no desempate. Em 1980, Senna voltaria a ser vice, em Niveles, Bélgica.
Quando já competia na Inglaterra pela Fórmula 1600, Ayrton voltou a disputar o mundial, em Parma, Itália: ficou em quarto. Sua última tentativa foi em de 1982, quando teve vários problemas e acabou em décimo quarto na Suécia.
Sem uma categoria que lhe interessasse no Brasil e com alguns contatos estabelecidos na Inglaterra, Senna foi para a Europa em 1981 para disputar o campeonato da Fórmula Ford 1600. Na época, a categoria era a vedete entre as que serviam de ligação entre o kart e os campeonatos maiores. O resultado eram grids cheios e pilotos dispostos a arriscar tudo por um futuro no automobilismo.
O brasileiro correria três campeonatos paralelos da categoria: o da P&O, o Townsend Thoresen e o do Clube Automobilístico RAC. A equipe era a Van Diemen, uma das mais competitivas de toda da Grã-Bretanha.
Ayrton disputou 20 corridas ao longo do ano. Foram 12 vitórias, dez voltas mais rápidas e três poles, o suficiente para assegurar o título da Copa Townsend Thoresen. Passada a euforia pelo título, Senna sofreu o maior golpe de sua carreira até então: um telefonema do pai, pedindo que voltasse imediatamente a São Paulo. Milton da Silva, empresário, queria o filho por perto para gerenciar os negócios da família. A brincadeira na Europa havia terminado ali.
Senna pareceu levar a sério a nova função. Mesmo insatisfeito, entrou na faculdade de administração e passou alguns meses tentando esquecer das pistas. A família, contudo, percebeu o equívoco. O escritório ao qual Ayrton estava acostumado era bem menor. Procurado pela Van Diemen para renovar seu contrato para a F-Ford 2000, em 1982, o piloto teve carta branca para voltar às pistas.
Na nova categoria, o domínio do brasileiro foi ainda maior. “Harry Silva” – como era conhecido, pela dificuldade de pronúncia dos mecânicos da equipe – venceu 20 das 27 corridas que disputou.
O desempenho impressionante, que incluiu também 14 poles e 21 voltas mais rápidas, rendeu um convite para disputar uma etapa da F-3 na pista de Thruxton. Mesmo sem conhecer o carro, Senna venceu de ponta a ponta,com direito à melhor volta da prova. A West Surrey, equipe de ponta da Fórmula 3, não tardou em assegurar Ayrton para a temporada seguinte.
Com um currículo invejável na Fórmula Ford, Senna chegou à F-3 Inglesa como grande promessa. Em sua única corrida pela categoria, o brasileiro havia dado um show, com pole, vitória e volta mais rápida. Embora toda a imprensa mundial apontasse Ayrton como favorito, os ingleses insistiam em super valorizar Martin Brundle, nova estrela local.
Durante as vinte provas da temporada o que se viu, realmente, foram duelos épicos entre os dois. Senna venceu nove provas seguidas, mas passou outras três sem terminar, dando margem para a recuperação do inglês. No final, Ayrton conquistou 15 vitórias – recorde na época – e chegou ao título. Brundle ganhou outras quatro e a única vitória que escapou da dupla ficou nas mãos do norte-americano Ross Cheever.
Brundle teria sua última chance de desbancar Senna no tradicional GP de Macau, que reúne os melhores pilotos de Fórmula 3 em todo o mundo. Mas, naquele momento, não havia nada a se fazer para parar Ayrton. A vitória, como na maior parte das vezes, veio seguida de pole e volta mais rápida.
O bom desempenho rendeu Senna um presente que todo jovem piloto gostaria de receber: um teste na Williams, atual campeã mundial de Fórmula 1.
Donington Park, 19 de julho de 1983. Um brasileiro de 23 anos, destaque da Fórmula 3 Inglesa, estaria prestes a escrever a primeira linha de sua história no topo do automobilismo mundial. Como prêmio por suas vitórias, a Williams – campeã mundial da época, com Keke Rosberg – deu ao piloto a chance de testar o modelo FW7.
Senna concentrou-se, cumpriu todo seu ritual de preparação, deu dois tapinhas no aerofólio traseiro e disse, em tom quase adolescente: “É hoje!”.
E realmente, aquele foi o dia de Ayrton, ou Harry, como alguns ingleses insistiam em dizer. Aos poucos, uma a uma, as marcas foram caindo. Poucas voltas foram suficientes para que Senna quebrasse o recorde da pista, deixando a equipe impressionada.
Saindo do carro, o piloto disse ao irmão Leonardo, que o acompanhava: “Isso aqui não tem mistério, é moleza”.
Mas ainda não seria em 1984 que Senna correria pela Williams. Com as principais equipes fechadas para a temporada que chegava, restou ao brasileiro lutar por vagas nos times menores, e foi a Toleman, um time simpático, tipicamente médio, que acolheu o futuro campeão.
Era domingo, dia 25 de março de 1984, e o GP Brasil mobilizava o país. Todas as atenções estavam voltas para Nelson Piquet, campeão da temporada anterior e um dos favoritos ao título. Entre os estrangeiros destacavam-se Alain Prost, Niki Lauda, Keke Rosberg, Nigel Mansell, Jacques Laffite, Renè Arnoux e Elio de Angelis, que marcou a pole-position.
Em um dos melhores grids da história da Fórmula 1 (se contados hoje seriam 15 títulos mundiais), Senna ficou com a 16ª colocação, uma a frente de Johnny Cecotto, campeão de motovelocidade, seu primeiro companheiro de equipe na categoria. Mas o estreante não teve sorte. Ganhou três posições e andava em nono quando teve problemas em seu turbo. Era a primeira das 14 provas que disputaria em 1984 e, certamente, não seria a melhor delas.
As duas corridas seguintes foram muito boas para Senna. Na África do Sul, largou em 13º e chegou em sexto, marcando seus primeiros pontos na Fórmula 1. Ao final da prova, recusou maiores comemorações de Alex Hawkridge, seu chefe na Toleman: “Estou pronto para chegar ao pódio, arrume carro para isso”, disse. Três semanas depois, na Bélgica, o sexto lugar se repetiu, desta vez após uma largada em 19º.
O GP de San Marino, contudo, foi desastroso. Com dois motores quebrados e impossibilitado de marcar tempo na sexta-feira, Ayrton acabou traído pela forte chuva que caiu no sábado. Pela primeira e última vez, Senna estava fora de uma corrida por não ter obtido tempo de classificação. Na França, duas semanas depois, foi traído pelo turbo, que quebrou quando estava em quinto.
Mas a grande prova do brasileiro em 1984 foi o GP de Mônaco. Largando em 13º, Ayrton foi passando por pilotos com muito mais experiência na Fórmula 1. Não demorou muito e encostou em Niki Lauda. Encostou e passou fácil. Já estava em segundo e Alain Prost seria a próxima vítima. Mas acabou não sendo, porque o diretor de prova, o ex-piloto belga Jack Ickx, encerrou a corrida, segundo muitos dizem, para dar a vitória a Prost.
As corridas seguintes foram marcadas por muitas falhas mecânicas e bons treinos de classificação. A partir do GP do Canadá, Senna ficou por cinco vezes seguidas entre os dez primeiros do grid. Entretanto, dentre essas cinco provas, só completou em duas. Foi 7º em Montreal e subiu ao pódio em Brands Hatch, com um terceiro lugar. A Toleman disputou o GPs da Alemanha, Áustria e Holanda com um único carro e, nas três provas, Senna teve problemas. Àquela altura, o brasileiro já estava acertado com a Lotus para 1985. A Toleman descobriu e, como forma de repreender a atitude do piloto, chamou o italiano Pierluigi Martini para treinar em Monza. Martini sequer se classificou para a prova.
Todavia, a equipe voltou atrás e o brasileiro disputou, ao lado de Johansson, as duas últimas provas do ano. No GP da Europa, em Nurburgring, Ayrton largou em 12º e envolveu em um acidente com outros sete carros. Na última corrida do ano, em Portugal, Senna conseguiria sua melhor posição de largada até então: um terceiro posto, atrás de Prost e Piquet. A despedida da Toleman aconteceu no pódio, também com um terceiro lugar, que lhe deu a 9ª colocação no campeonato, com 13 pontos.
Piloto revelação da temporada anterior, Senna chegou à Lotus em busca da primeira vitória na Fórmula 1. Na prova de estréia, no Brasil, Ayrton foi bem nos treinos, ficando com a quarta colocação. Na corrida, contudo, um problema elétrico o tirou da disputa.
A prova seguinte, em Portugal, guardava boas surpresas. Senna marcou a pole com uma volta fantástica e na corrida deu show: largou em primeiro, liderou todas as voltas e, em uma delas, estabeleceu a melhor marca da prova. A primeira vitória de Ayrton Senna na Fórmula 1 ocorreu sob um dilúvio no circuito do Estoril. Ali, o brasileiro ganhou o título de “Rei da Chuva”.
Seguiu-se, então, uma seqüência de três poles da Lotus, duas com Senna e uma com De Angelis. O italiano venceu em San Marino, enquanto Ayrton não marcou pontos em nenhuma das três provas. Senna vinha bem nos treinos, mas nas corridas era quase sempre vítima de problemas mecânicos da Lotus ou do motor da Renault, que consumia muito mais que os adversários. Na segunda metade do campeonato, contudo, as coisas melhoraram.
Mais três poles, quatro pódios e uma nova vitória, na Bélgica, credenciaram Ayrton Senna como piloto vencedor na categoria. No final do ano, Ayrton ficou em quarto no mundial, melhor entre os estreantes. À frente dele, apenas Prost, Alboreto e Rosberg.
A temporada de 1986 começou conturbada na Lotus. Sabendo que Derek Warwick estava sendo cotado para ser seu companheiro de equipe, Senna causou polêmica ao vetar a contratação do inglês, alegando que a equipe não tinha condições de ter dois pilotos de ponta. O veto foi aceito e o companheiro do brasileiro naquele ano foi um conde escocês, herdeiro de um dos maiores latifúndios daquele país e campeão da F-3 Inglesa: o obscuro Johnny Dumfries.
A primeira prova do ano seria o GP Brasil e Ayrton Senna já dividia as atenções da mídia e dos torcedores com Nelson Piquet, da Williams. Os dois dividiram a primeira fila, com Senna na pole. Na corrida, a ordem se inverteu, com Piquet em primeiro e Senna em segundo. Foi a segunda “dobradinha” brasileira correndo em casa.
A corrida seguinte, o GP da Espanha, em Jerez, marcou a terceira vitória de Senna e também uma das menores diferenças da história da categoria. Ayrton, mais uma vez o pole, venceu Mansell por míseros 14 milésimos. Em San Marino, duas semanas depois, o brasileiro conquistou mais uma pole, mas na corrida teve problemas e abandonou.
Senna vinha somando o máximo de pontos que lhe eram possíveis quando chegou a Detroit e fez a pole, depois de um jejum de três corridas. No domingo, Ayrton venceu a prova com Prost em terceiro. Foi a “vingança” do país pela derrota para a França na Copa do Mundo, um dia antes, e a última conquista de Senna em 86.
Com poucas chances na disputa pelo título após uma seqüência de cinco maus resultados, Senna ainda marcaria três poles - um total de oito ao longo do ano - e dois pódios, ficando com a quarta colocação no mundial que marcou o bicampeonato de Alain Prost.
Muito se especulou sobre uma possível transferência de Senna para a McLaren no início de 1987, mas o brasileiro disputaria mais uma temporada pela Lotus. A equipe iniciava uma fase de decadência e, mesmo contando com os motores Honda, não deu a chance que Senna queria de brigar pelo título.
O novo companheiro de equipe do brasileiro seria o simpático japonês Satoru Nakajima, indicado pela fornecedora nipônica, mais conhecido por seus acidentes que propriamente pelos resultados.
Foi um ano amplamente dominado pelas Williams, que conquistaram 12 poles e nove vitórias. Ayrton, que havia conquistado oito poles em 1986, teve que se contentar com apenas uma, em San Marino.
A temporada mostrou que, além de “Rei da Chuva”, Ayrton era também o “Rei da Rua”, pois suas duas vitórias no ano foram conquistadas em Detroit e Mônaco.
Com a decadência iminente da Lotus, que perdia rendimento a cada prova, Senna começou a analisar as propostas que recebia. A melhor delas era bancada pela Honda: o brasileiro iria para a McLaren, com igualdade de condições para Alain Prost e a promessa de um carro que lhe permitisse brigar pelo tão sonhado campeonato.
Para o lugar de Senna, a Lotus contratou seu maior rival até então: o inimigo declarado Nelson Piquet.
Quatro temporadas depois de chegar à Fórmula 1, Ayrton tinha, enfim, a chance que tanto perseguira: ter um carro que lhe permitisse disputar o título. A corrida de estréia na McLaren, no Brasil, tinha tudo para ser perfeita. O modelo MP4/4, projetado por John Barnard, mostrou-se um carro excepcional e Senna garantiu a pole. O domingo, no entanto, começou mal para Ayrton. Um problema no câmbio já no grid de largada o obrigou a largar do box, na última posição. O piloto deu um show de ultrapassagens e já era sexto quando foi desclassificado sob alegação de que teria usado o carro reserva.
Na corrida seguinte, em San Marino, os problemas pareciam ter chegado ao fim. Depois de treino e corrida perfeitos, Senna venceu sem maiores dificuldades, consagrando seu primeiro triunfo na nova equipe.
A terceira corrida daquele ano, em Mônaco, mudou a vida de Ayrton, segundo as próprias palavras do piloto. A vitória estava garantida e, quando liderava com quase um minuto de vantagem, Senna cometeu um erro, talvez o maior de sua carreira. O brasileiro perdeu a concentração e bateu na entrada do túnel. A partir de então, Ayrton passou a trabalhar mais seu lado psicológico, visando evitar novos contratempos.
O restante da temporada foi uma briga constante entre Senna e Alain Prost, seu companheiro na equipe. Em apenas uma das 16 etapas, a McLaren não saiu vencedora. Foi em Monza, quando Ayrton Senna liderava e acabou batendo no retardatário Jean Louis Schlesser. A vitória, então, caiu no colo de Gerhard Berger, da Ferrari.
O campeonato chegou ao Japão, penúltima etapa, podendo ser decidido em favor de Senna. Saindo na pole, o brasileiro teve problemas na largada e caiu para a 14ª colocação. O que se viu depois foi uma das mais fantásticas corridas de recuperação da história da Fórmula 1: Ayrton foi superando seus adversários um a um até chegar em Alain Prost, na 27ª volta.
O francês tentou reagir, mas não conseguiu conter o ímpeto de Senna. O garoto que sonhava em chegar à Fórmula 1 e por pouco não desistiu de tudo, conquistava seu primeiro título mundial.
Com o título de Senna e todo o marketing feito sobre o piloto brasileiro, o clima na McLaren não poderia ser melhor. Poderia dizer que havia satisfação geral na equipe, não fosse a honrosa exceção de Alain Prost.
Desde o início da década de 80 no time, Prost sentia um misto de decepção e ciúmes. Nas cinco primeiras corridas, Senna conquistou a pole; mas não foi isso que detonou uma rivalidade declarada entre os dois. Em San Marino ambos fizeram um pacto de não agressão durante a primeira volta: ninguém tentaria ultrapassar, por questões de segurança.
Pois em Ímola, Ayrton revogou o trato e partiu para cima. A manobra valeu a vitória para o brasileiro; mas, muito mais que uma prova, Senna ganhou um inimigo. Farpas à parte, a decisão chegou mais uma vez ao Japão, palco da disputa anterior.
A prova de Suzuka ilustra muito bem o clima de guerra: aproveitando-se da vantagem que tinha no mundial, Prost jogou o carro para cima de Senna, tentando forçar um duplo abandono.
A manobra tirou Prost da prova, mas Ayrton, ajudado pelos fiscais de pista, foi para o box, trocou o "spoiler" e voltou para a pista em busca da vitória, que adiaria a decisão do título. Na última volta, Senna passou pela Benetton de Alessando Nannini e comemorou a vitória como poucas vezes se viu.
Mas a FIA e seu carrancudo presidente Jean Marie Balestre, anulou o resultado, alegando que, ao voltar à pista, o brasileiro não havia contornado a chicane. A briga de Senna com Balestre quase fez o piloto desistir da Fórmula 1. Mas em 1990, lá estava Ayrton em sua McLaren.
A temporada de 1990 seria decisiva para Ayrton: o sonho do bicampeonato, adiado nos bastidores na temporada anterior, estava mais vivo do que nunca. Alain Prost, o principal rival, havia trocado a McLaren pela Ferrari, onde faria uma dupla explosiva com Nigel Mansell. Para o lugar do francês a McLaren contratara Gerhard Berger.
Na etapa de abertura, em Phoenix, um adversário diferente incomodou o brasileiro. Com as Ferrari fora da briga, Ayrton deparou-se com um inspiradíssimo Jean Alesi, da Tyrrell. Campeão da F-3000, Jean segurou Senna enquanto pôde, mas acabou cedendo às pressões e contentando-se com a segunda posição.
Um grande público lotou Interlagos para apoiar Ayrton no GP Brasil. A pole no sábado dava a entender que o longo tabu de vitórias seria quebrado. Só esqueceram de avisar ao japonês Satoru Nakajima; retardatário, o piloto fechou Senna, que perdeu o bico e várias posições. No final Ayrton ainda terminou com a terceira colocação.
Mesmo em equipes diferentes a rivalidade entre Senna e Prost permanecia a mesma. Ao longo do ano os dois foram revezando boas e más fases e, pela terceira vez, chegaram ao Japão para a decisão do título.
Disposto a não correr o risco de perder mais uma vez para o francês, Senna planejou um troco à manobra de 1989. Largando na pole, o brasileiro saiu mal e ficaria atrás de Prost na freada da primeira curva. Mas Senna fez uma opção arriscada por não frear: o acidente foi inevitável e, com ambos fora da prova, o bicampeonato estava garantido.
ano de 1991 foi marcado por duas fases distintas para Ayrton Senna. No início do ano, com a McLaren ainda em igualdade de condições com as Williams, o brasileiro venceu as quatro primeiras provas, disparando na classificação.
Entre as vitórias de Ayrton, destaque para a do GP Brasil, em Interlagos: com um carro visivelmente em frangalhos – tinha apenas a sexta marcha nas voltas finais – Senna venceu pela primeira vez correndo em casa. O piloto mal podia conter a emoção após a prova, gritando freneticamente no rádio da equipe.
Mas a McLaren não conseguia desenvolver seu carro como deveria. A Honda, que sairia da Fórmula 1 ao final do ano, não desenvolvia motores com o afinco de outros tempos, e o resultado foi uma perigosa aproximação das Williams-Renault, lideradas pelo estabanado Nigel Mansell.
Uma série de quebras e azares fez com que o título, que parecia certo no início, ficasse aberto. Quis o destino que a pista decisiva, mais uma vez, fosse a de Suzuka, no Japão. Como só a vitória interessava a Mansell, a McLaren fez um jogo de equipe buscando desconcentrar o inglês. Gerhard Berger, com pneus mais macios, largou na frente, com Senna em segundo e Nigel em terceiro.
Desesperado para passar o brasileiro, Mansell passou reto na curva após a reta, perdendo qualquer chance de ser campeão. Senna ainda passou Berger na pista, mas no final abriu para a vitória do companheiro, acatando ordens do time, como agradecimento ao desempenho do austríaco.
O desenvolvimento das Williams-Renault no fim de 1991 já era evidente, mas não se imaginava que já no ano seguinte a equipe fosse dominar a Fórmula 1. Munida de um aparato tecnológico inovador para a época – entre eles suspensão ativa e controle de tração –, a escuderia não deu chance aos rivais.
Logo nas primeiras etapas o domínio ficou evidente: Mansell venceu as cinco primeiras provas, abrindo uma diferença que apenas cresceu ao longo da temporada. No final das contas, o inglês foi campeão na Hungria, com cinco etapas de antecipação e 52 pontos a mais que Riccardo Patrese, o segundo.
Para Ayrton, restaram atuações isoladas, com a vitória em Mônaco e na Hungria. Mesmo nos treinos, sua especialidade, o brasileiro não teve chances: apenas uma pole em 16 etapas, contra 14 de Mansell.
A definição de Senna, ainda nas primeiras etapas, foi a melhor encontrada para descrever o modelo FW14: “É um carro de outro mundo”.
O domínio da Williams, marca da temporada de 1992, continuou no ano seguinte. Senna declarou publicamente que aceitaria qualquer oferta para correr pela equipe e chegou a ser procurado, mas o novo piloto teria vetado o brasileiro. O nome dele: Alain Prost.
A temporada começou com o GP da África do Sul e, como no ano anterior, era impossível seguir o ritmo dos carros de Frank Williams. Apenas um fator poderia complicar a vida de Prost: a chuva. Mas, como não choveu em Kyalami, o francês não teve problemas para vencer.
No Brasil, quinze dias depois, a história foi diferente. Sem chances de brigar pela pole, Senna largou em terceiro, atrás de Prost e Hill. Durante a prova, uma tempestade caiu sobre Interlagos. Com a pista completamente molhada, Senna fez a festa da torcida. Após sua segundo vitória no Brasil, Ayrton foi erguido pelos fãs, que invadiram a pista.
Para quem pensou que o show de Interlagos havia sido o último do ano, Senna guardou uma atração ainda maior: o GP de Donington Park. Largando na quarta colocação, Ayrton caiu para quinto e foi passando um a um os adversários: Schumacher, Wendlinger, Hill e, por fim, Prost. Ao final da primeira volta, Senna já era líder. O feito fez com que o piloto recebesse uma justa homenagem: uma placa, colocada na entrada do circuito, em homenagem à “primeira volta mais fantástica da história”.
Mesmo com um carro inferior Ayrton conseguiu equilibrar a disputa até o GP do Canadá, quando Prost começou uma série de quatro vitórias, praticamente garantindo o título. Para terminar bem a temporada, Senna venceu as duas últimas provas, com direito a pole na Austrália.
No pódio de Adelaide, Ayrton fez um dos gestos mais nobres da história da Fórmula 1. Vencedor, o brasileiro puxou Alain Prost para o degrau do primeiro colocado. Era o fim das brigas e acusações.
Eram passados dez anos desde que Senna havia andado pela primeira vez em um carro de Fórmula 1, justamente uma Williams, em julho de 1983. O garoto de 23 anos se transformara num tricampeão mundial, com um recorde de 62 poles e já acumulava 41 vitórias. Os carros da equipe inglesa haviam dominado as duas temporadas anteriores e a expectativa era novo massacre em 1994.
Na primeira corrida, o GP Brasil, Ayrton marcou a sua primeira pole pela equipe, aumentando seu recorde de primeiras colocações no grid. Senna ia bem e liderava com relativa facilidade, mas perdeu a ponta para o alemão Michael Schumacher, a mais nova fera da categoria, no reabastecimento. No ímpeto de alcançar Michael, Ayrton Senna acabou rodando e abandonou a prova, vencida por Schumacher. Seu companheiro na Williams, Damon Hill, ficou em segundo.
Passaram-se quinze dias e a F-1 foi a Aida, Japão, para a disputa do GP do Pacífico. Na pista, que recebia pela primeira vez a categoria Senna conquistou mais uma pole. O brasileiro teria mais uma vez Michael Schumacher a seu lado no grid. A corrida de Senna, contudo, acabou logo na largada: Ayrton foi atingido pela McLaren do então inexperiente Mika Hakkinen; Nicola Larini, da Ferrari, também foi envolvido no acidente. Longe das confusões, Schumacher venceu mais uma prova, fazendo 20 pontos a 0 no placar.
A pressão sobre Senna crescia. Afinal, Schumacher tinha uma boa vantagem e a Williams tinha um carro tido como imbatível. Fato é que, com a proibição dos dispositivos eletrônicos, a equipe ainda procurava um acerto ideal para voltar a ter a supremacia dos anos anteriores. Senna reclamava da instabilidade do carro que, segundo ele, estava difícil de guiar. A Williams prometeu algumas mudanças no modelo, mas Senna não teve tempo de presenciá-las.
O GP de San Marino de 1994 foi o pior de todos os tempos na Fórmula 1. Na sexta-feira, Rubens Barrichello bateu forte e teve escoriações no nariz. A segurança da pista já era discutida quando, no treino classificatório de sábado, morreu o austríaco Roland Ratzenberger.
Naquele domingo Ayrton parecia triste, abatido e desmotivado. Alguns dizem que ele não queria correr. Outros, que Senna havia previsto sua morte. Mas a bandeira da Áustria, com a qual ele homenagearia Roland Ratzenberger caso vencesse aquela corrida, mostra que, até o fim, ele lutou pela vitória.
Uma vitória que não veio naquele 1º de maio de 1994. O laudo do hospital Maggiore, em Bolonha, veio implacável, inapelável: Ayrton Senna da Silva, 34 anos, brasileiro, piloto de corridas, morreu.
fonte: f1web
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